Fios de vida

Ás vezes perco os fios da vida...
Tenho saudades! Perdi tanto do meu passado, mas também sei que ganhei com este destino. Faz-me falta aquela inocência, o olhar doce com que olhava a vida. Não precisava de saber o que sei hoje, preferia gatinhar pelo chão. Queria de volta as brincadeiras de menina; eu era a professora e tu minha aluna enquanto passavas a ferro, abria o armário e calçava os sapatos que me soavam melhor e passava pelo quarto trazendo a tua carteira. Era a ânsia de crescer. E gostava de ti, amava-te porque sei que também tu.

Faltam-me os chocolates de todos os dias, os passeios de mão dada, os morangos no final de almoçar e a bata branca, faltas-me tu que me esperavas no portão e tu que me apertavas os botões.

Tenho poucas recordações tuas, talvez porque nunca me mudaste a fralda, no entanto, sei que és a pessoa que mais falta faria na minha vida. És o que me apoia e me percebe, o que não precisa de palavras para me falar, aquele que eu mais amo, és tu Pai, Homem com letra grande.

De ti lembro-me pelas brincadeiras e sei que te adorava. Rias-te das minhas brincadeiras inocentes e quando estudavas lias alto para eu ouvir. Ensinaste-me a assobiar e a fazer ponte e lembro-me dos teus passos compridos, eu era pequena, e por isso tinha de correr devagarinho para acompanhar o teu passo. Davas cor á minha pequena vida.

São fios que se vão perdendo...
Outros que se vão ganhando...