16/07/2008

Obrigada


Nunca tive de me conformizar com o ciclo da vida; os importantes nunca vi partir, não olhei para eles sabendo que era uma última vez. Não tive de carregar a dor vazia, aínda. Mantinha-vos no mundo, sempre a meu lado; Ir embora jamais seria opção. E pensei como seria quando a vida se desfizesse à minha frente. Esta foi das raras coisas que não consegui imaginar! Será que algum dia serei capaz de vos olhar nos olhos e dizer um "obrigada"; Porque é que as palavras mais simples são as mais difíceis de se dizer? Eu não quero olhar à minha volta e ver a vida roubar-me partes de mim, eu não quero olhar-vos uma última vez. Quero crescer e ver-te sentada em frente á máquina de costura, quero ter na gaveta os chocolates de sempre, tocar à campainha e ser esperada em qualquer canto da casa... Eu não quero que este capítulo da vida se acabe. É inimagínavel continuar sem aqueles que me viram crescer; os morangos no fim do almoço, a bata branca passada a ferro, a pontualidade no fim das aulas, os passeios de manhã, as ajudas no trabalho de casa, as tardes deitada na cama, o antigo quarto dos brinquedos... Não quero viver de recordações, quero continuar a fazer história. Não saberei viver quando a noite ficar mais escura, preciso desse brilho que me vê crescer, avós.

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